Caso Eudia Badião - Decepção e desrespeito no Fórum Oswaldo Pieruccetti

Promotor abandona plenário após discordar de juíza e julgamento é suspenso



A última sessão do Tribunal do Júri presidida pela juíza Soraya Brasileiro Teixeira na Comarca de Araguari foi marcada por surpresa e decepção, ontem, 5, no Fórum Oswaldo Pieruccetti, tendo como protagonista o promotor Valter Shigueo Moriyama.

O julgamento começou fora do horário previsto e se encerrou antes mesmo do interrogatório do réu, o ex-militar do Exército José Hamilton de Souza, de 31 anos, denunciado pelo Ministério Público pela morte de Eudia Baião Costa, esfaqueada com mais de 20 golpes em dezembro de 2006, no Jardim Ipanema, região do Bairro Brasília.

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Em função do atraso do representante do Ministério Público, a sessão se iniciou oficialmente às 9h45. Após o sorteio dos jurados, as testemunhas de defesa e acusação começaram a ser ouvidas.

Raimunda Baião Costa, mãe da vítima, prestou declarações por aproximadamente três horas, encerrando os trabalhos do período da manhã. Ela se emocionou em vários momentos, principalmente no relato do crime, o qual vivenciou em quase todos os seus detalhes.

A oitiva das testemunhas continuou à tarde. O médico Ademar Faria, arrolado pela defesa, foi o último a ser ouvido. Em certo momento, o assistente de acusação João Jorge Filho o indagou sobre os Dez Mandamentos, perguntando se era favor ou contra tirar a vida de uma pessoa.

Raimunda Baião, que prestou declarações durante quase três horas, saiu esgotada do fórum >>

A juíza Soraya Brasileiro interveio e não aceitou o questionamento, o que causou reação imediata de Moriyama. O promotor, irritado e esbravejando muito, deixou o Plenário e as dependências do fórum.

Em seguida, o assistente de acusação tomou a mesma atitude, que surpreendeu a própria magistrada, assim como o advogado Paulo Braganti, a testemunha, os jurados, o réu, os serventuários da Justiça e o público que acompanhava o julgamento.

Diante dos fatos, a sessão, que certamente se estenderia até altas horas, foi suspensa pela presidente do Tribunal. “Infelizmente, a minha última sessão de júri em Araguari terminou de forma inesperada. Acredito que não havia motivo para que isso ocorresse”, comentou Soraya Brasileiro, que registrou em ata a conduta do Ministério Público.

A Gazeta do Triângulo tentou contato com o promotor Valter Shigueo Moriyama, mas ele não foi encontrado para comentar os fatos. Por sua vez, o advogado João Jorge Filho lamentou a decisão da juíza, entendendo que a acusação tinha o direito do questionamento à testemunha.

O advogado Paulo Braganti disse à reportagem que esperava uma decisão ontem, porém, como isso não aconteceu, ele assegurou que a defesa estará pronta para a próxima sessão, que não tem data prevista, podendo ocorrer apenas em 2010. “Lamentamos o que houve no Júri, mas isso não irá alterar a nossa estratégia”.

Familiares e amigos de Eudia Baião compareceram em massa ao Fórum Oswaldo Pieruccetti e saíram, mais uma vez, decepcionados. Eles usavam camisetas estampadas com a foto da jovem, numa maneira de protestar contra a atitude cometida por José Hamilton, porém, ainda não foi dessa vez que viram o acusado ser condenado.

“É mais um momento difícil que estamos passando. O que aconteceu aqui foi um absurdo. Esperávamos ver o assassino condenado e, mais uma vez, ele deixa o fórum em liberdade”, disse uma prima da vítima, bastante emocionada, assim como outros familiares de Eudia.

EMPECILHOS

Dois anos e cinco meses se passaram e José Hamilton ainda não foi julgado. O episódio de ontem é apenas mais um durante o Caso Eudia Baião.

O primeiro julgamento, por exemplo, deveria ter ocorrido no último dia 18 de maio, mas teve que ser adiado, uma vez que, dos 25 jurados sorteados, apenas 11 compareceram. Os outros 14 não foram localizados pelos oficiais de Justiça para serem intimados.

Além disto, ao longo do processo, dentro dos seus direitos, a defesa entrou com alguns requerimentos, o que contribuiu para a demora na marcação do julgamento.